domingo, 14 de outubro de 2007

Nausícaa (eu não sei o que aconteceu!)

O entardecer do verão começara a envolver o mundo em seu misterioso abraço. Longe no Oeste o sol se punha e o último reluzir do dia fugaz brilhava ainda encantador sobre e o mar e a areia, sobe o altivo promontório do velho conhecido Howth, vigilante como sempre sobre as águas da baía, sobre as pedras cobertas de ervas pela praia de Sandymount e, com não menos importância, na tranqüila igreja de onde brotava por vezes no silêncio do ar em torno a voz das preces a ela que em sua pura radiância é um farol sobre o coração do homem, fustigado pelas tempestades, Maria, estrela do mar. (1-8)

Cissy Caffrey agarrou o pequenino pois era louca por crianças, tão paciente com os coitadinhos e nunca conseguiam fazer Tommy Caffrey tomar seu óleo de rícino a não ser que Cissy Caffrey estivesse lá para segurar seu narizinho e prometer-lhe a ponta crocante do pão preto com aquele xarope dourado. (29-33)

A rápida inteligência maternal de Cissy percebeu o que estava errado e ela sussurou a Edy Boardman que o levasse para trás do carrinho onde o cavalheiro não pudesse vê-lo e que cuidasse que ele não molhasse os novos sapatinhos castanhos.

Mas quem era Gerty?

Gerty MacDowell que estava sentada junto de suas companheiras, com a cabeça longe, olhar perdido na longa distância, era com toda justiça um espécime tão belo da cativante feminilidade irlandesa quanto poder-se-ia desejar. (75-81)

Lentamente, sem olhar para trás ela desceu pela praia irregular até Cissy, até Edy, até Jacky e Tommy Caffrey, até o bebezinho Boardman. Estava já mais escuro e havia pedras e pedaços de pau na areia e algas escorregadias. Ela caminhava com um certa dignidade tranqüila característica sua mas com cuidado e muito lentamente porque – porque Gerty MacDowell era...

Botas apertadas? Não. Ela é manca! Oh!

O senhor Bloom a observava que seguia coxeando. Coitada! (766-72)


Mas... ai, ai, ai! Aquela aparência tensa em seu olhar! Uma mágoa está ali consumindo-a o tempo todo. Sua alma está exposta em seus olhos e ela daria mundos e fundos para estar no recôndito de seu próprio recinto familiar onde, dando livre curso às lágrimas, poderia chorar a valer e aliviar seus sentimentos reclusos mas não demais porque ela sabia chorar bem direitinho diante do espelho. Você é linda, Gerty, ele lhe dizia! A pálida luz do entardecer desce sobre um rosto infinitamente triste e anelante. (188-93)


Com todo seu coração ela deseja ser sua querida, sua noiva prometida na riqueza e na pobreza, na doença da saúde, até que a morte não separe, daqui até de hoje em diante. (215-217).

O cavalheiro mirou uma ou duas vezes e então arremessou a bola praia acima na direção de Cissy Caffrey mas ela rolou pelo chão inclinado e parou justo sob a saia de Gerty perto da pequena piscina junto à rocha. Os gêmeos clamavam de novo por ela e Cissy lhe disse que a mandasse dali com um chute e eles que brigassem por ela portanto Gerty preparou seu pé mas desejou que aquela bola idiota não tivesse vindo rolando até ela e deu um chute mas errou e Edy e Cissy riram. (352-8)

Gerty pedia aos céus que elas levassem aquele bebê gritão para casa longe dali e não lhe dessem nos nervos, isso era hora de estar fora de casa, e os pirralhinhos dos gêmeos. Ela mirou longe sobre o mar distante. Era como as pinturas que aquele homem fazia na calçada com todo aquele giz colorido e tanta pena também deixá-las ali para sumirem todas borradas, a noite e as nuvens surgindo e o farol Baily em Howth e ouvir a música assim e o perfume daquele incense que eles queimavam na igreja como uma nuvem de aroma. (404-11)

E enquanto mirava seu coração pôs-se aos pulos. Sim, era para ela que ele olhava e seu olhar era prenhe de significados. Seus olhos penetravam-na queimando como se por revistá-la inteira, ler o mais fundo de sua alma. Olhos magníficos ele tinha, soberbamente expressivos, mas podia-se neles confiar? As pessoas eram tão esquisitas. Ela pôde ver de pronto por seus olhos negros e seu pálido rosto intelectual que ele era um estrangeiro, idêntico à foto que ela tinha de Martin Harvey, o ídolo das matinês, a não ser pelo bigode que ela preferia porque não era frenética por teatro como Winny Rippingham que queria que elas duas usassem sempre roupas iguais por causa de uma peça mas ela não conseguia ver se ele tinha um nariz aquilino ou algo retroussé dali de onde estava sentada. Estava de luto fechado, isso ela podia ver, e a estória de uma dor apavorante estava gravada em seu rosto. Ela teria dado o mundo para conhecê-la. (411-23)

Gerty sufocou uma exclamação abafada e soltou uma tosse nervosa e Edy perguntou o que foi e ela estava a ponto de dizer para ela ir cuidar da própria vida mas ela era sempre adamada em seu proceder e portanto simplesmente contornou o dilema com consumada diplomacia dizendo que se tratava da bênção porque bem naquele momento o sino soou vindo da torre por sobre a praia tranqüila porque o clérigo O'Hanlon estava no altar com o véu que o padre Conroy pusera sobre seus ombros dando a bênção com o santo Sacramento nas mãos. (616-23)

Ele estava recostado à rocha atrás de si. Leopold Bloom (pois é ele) está calado, de cabeça baixa diante desses jovens olhos cândidos. Mas que monstro ele havia sido! De novo com isso! Uma alma pura imaculada o havia invocado e, desgraçado que era, como respondera? (443-7)

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